imagens, registros e reflexões sobre a versão em HQ de "As Barbas do Imperador" de Lília Moritz Schwarcz

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Oficina de Personagem na Quanta - julho de 2012

Mais uma vez, a QUANTA Academia de Artes, em São Paulo, promove seus cursos rápidos e oficinas de férias.
No sábado 28 de julho, acontecem as oficinas de Júlia Bax e Rod Reis (lotados, mas não custa tentar uma vaga...), Baptistão, Ivan Reis, André Diniz e este que vos tecla.

Eis os links:
http://www.quantaacademia.com/escola/cursos_de_ferias.htm
http://www.quantaacademia.com/escola/cursos_de_ferias_personagem.htm

Minha oficina será sobre "criação visual de personagens", o que para mim tem um significado muito amplo. Eu procuro recorrer à experiência de contar histórias por meio de atores/personagens desde o teatro grego (embora ache as montagens de teatro grego muito chatas... mas já li "Édipo Rei") e aos personagens míticos, imemoriais, das lendas e dos contos de fadas - batizados pela terapia junguiana de "arquétipos". É simplesmente um banco de dados de tipos humanos.

O que é um personagem? É qualquer figura capa de contar uma história, representando... Até uma luminária pode atuar - se por seus movimentos, seu timing, conseguir expressar desejos, intenções e até pensamentos e sentimentos. Não preciso provar isto, todo mundo já viu...

Mas um personagem não é qualquer coisa: um modelo numa passarela, ou um manequim, não é personagem (a menos que seja uma história sobre manequins...). O que quero dizer é que um personagem - no nosso caso, um personagem desenhado, ou um ator já caracterizado, como o Lima Duarte vestido de Zeca Diabo - é uma PESSOA, um ser com personalidade, ainda que seja uma pedra ou uma minhoca: é alguém capaz de contar uma história, que contém uma história potencial, mesmo que ninguém a tenha escrito ainda.

É fácil olhar para certas figuras que só vivem como merchandising (lembro sempre dos mesmos exemplos da moda, Hello Kitty e Bad Boy), mas que têm uma emoção dominante, um vetor, uma direção, desejos, atraem certas coisas e repelem outras. É como se elas tivessem um halo em volta delas, um círculo de possibilidades, de histórias possíveis (e ao mesmo tempo, indicam o que não tem nada a ver com elas).

A oficina será, como as outras que dei, um treino de sensibilidade para perceber essas coisas, e usar essa percepção no desenvolvimento de tipos a partir de idéias, sentimentos e formas básicas.

A parte mitológica será só por alto, porque é um estudo que exige muito tempo; mas darei algumas noções, até porque é uma linguagem que eu conheço bem e uso bastante nos meus personagens. Nos dois desenhos que abrem este post, as duas figuras (o ministro Marquês de Olinda e o mordomo Paulo Barbosa) mostram nitidamente em seus corpos e na postura que papéis são capazes de desempenhar. Cada um tem um "tônus vital" (energia) diferenciado, uma maneira própria de dar direção à sua vida, de organizar suas coisas, portanto, cada um tem seus valores e prioridades.

No centro de cada personagem tem alguns valores que o norteiam (ou desnorteiam...). Tem um núcleo, uma idéia central, digamos assim. Mas nós não vemos "idéias" flutuando por aí - vemos pessoas e vemos as suas ações. É isso que um personagem tem que passar, a coerência entre o que ela é e o que ela faz. Como eu batizei um antigo curso de caricatura que eu dei, "quem vê cara, vê coração".

Isto me faz lembrar de personagens que morreram, ou ficaram opacos, porque deixaram de ser atores para virar apenas símbolos - não de suas personalidades, mas de uma marca. Lembro de umas ilustrações do Fred Flintstone, mais novas, feitas apenas para merchandising. Ele estava naquela pose boba de garoto-propaganda, em vez de expressar sua própria personalidade tosca e verdadeira. Vou ver se me lembro de incluir estes contra-exemplos na minha oficina.


sexta-feira, 6 de julho de 2012

Mas esse tal de Agostini era bom mesmo

 Este é um quadro de meia página, na página 72 de "As Barbas...", que era para ser bem mais simples (veja o layout no final do post), mas, ao examinar a gravura de referência, tão rica e cheia de detalhes, não resisti em seguir mais de perto a cena desenhada por um contemporâneo.

E mesmo assim, a gravura original é insuperável, na variedade de tipos populares e situações paralelas (repare no sujeito no pico do telhado, de guarda-chuva). Não coloquei tudo para dar espaço a algumas legendas, mas dava vontade.
(clique com o botão direito do mouse para ampliar em uma nova janela, é o melhor meio de visualizar).


Não sei se é do Ângelo Agostini. Será? No crédito do livro da Lília, vemos apenas a indicação do acervo (Museu Imperial de Petrópolis - MIP). Também não achei no livro do Maringoni. Mas acredito que seja dele, pelo desenho seguro da multidão, pelo contraste entre os planos, e a letra não destoa.

Abaixo, como vêem, o layout era mais simples.

Como na página seguinte haverá vários dons Pedros posando para fotografias, abri mão deste primeiro plano do monarca, tanto para mostrar a vivacidade do povo nas ruas (o pessoal realmente subia nos telhados para ver desfiles e cerimônias, pensam que não? Desde Debret se registra isso; e esses trepados nas árvores podem ser estudantes), como para homenagear este talvez Agostini. Voltaremos a ele.